Marinheiro triste
Que voltas para bordo
Que pensamentos são
Esses que te ocupam?
(Marinheiro Triste - Manuel Bandeira)
Que voltas para bordo
Que pensamentos são
Esses que te ocupam?
(Marinheiro Triste - Manuel Bandeira)
E nela moram interrogações. Os assombros mesmos, de anos atrás. Pela janela escancarada, quem passa vê: a moça de face apoiada em mãos e aquele olhar que não enxerga. Foi ele quem partiu, outra vez. E o litro de aguardente que ficou na mesa ao lado bem serviam para lembrá-la de como o amor do que se foi a esquentava.
Marinheiro, marinheiro! Envolto em tuas águas, sente-se no comando do mundo, bem sei. Carrega uma lista de corações partidos a cada canto por onde passa. A cada porto, escreve um desamor. Os olhos que te retratam, verdes, jabuticabas, azuis, castanhos, de mel, do-Pará - cada um, uma festa que já foi. E depois as águas. E nada. Solidão para os teus olhos tristes, marinheiro. Coração nenhum ao lado teu. Uma pena. Mesmo? Já não sei mais.
Observo-te em tom de pesquisa há muito. Lembro os dias onde o mundo ainda era pouco, de quando você se fez homem do mar. Teu lenço, chapéu, farda, botavam doidas as mocinhas todas. Soubesse aproveitar os bons frutos, hoje teria uma árvore bem cuidada. Mas quem quer saber de árvore quando nunca se ancora? Você aproveita das estações o que de melhor elas te oferecem.
Teu navio, que nome ele tem, marinheiro? Nome de amor, sofreguidão, azedume? Pelo casco sujo, acredito em desimportância. Se houve batismo, um dia, já não se sabe das memórias. É a água que leva e a onda que traz de volta. Por isso você retorna. Bebida e charuto. Posa em desafeto e depois parte em tropeços. Deixa aqui um verso, por hoje. Poema para a donzela. Perfume para as prostitutas dos teus portos de escala.
Espia São Jorge, enquanto a lua se levanta. Já notou do teu navio, quando os ventos te levam os contos daqui, como é bonito o mar grávido em luar? Sentiu-se filho? Bem sei que você se torna céu azul, marujo. A moça carrega pintura tua no altar. Pobre da moça.
Esse batom barato borrando teus lábios, de que passagem grudou? Tão encarnado quanto as demais paixões profanas. Sei que hoje não é mais dado a confetes. A tristeza bem desenhada nos teus olhos escuros chega a ser divina em sua verdade. É a tristeza envelopada em si. Carta escrita por você, marinheiro. Te alcançaria em qualquer mar.
Marujo ia no olho verde da moça, em doce navegar. Moça no coração do mar. Ele é filho. Saltariam juntos apenas quando a garrafa de amor escrito fosse aberta. Descoberta. Tinha dos dois, nalgum lugar. Vidro frágil. Era a promessa. O desembarcar em cada porto era o viver sendo entregue. Missão. A moça era do marinheiro. Ele, dela. E sempre foi assim. Necessário transverberar?
Marinheiro viu coração em garrafa. Infinitude nadava. Afogou-se. Muito (a)mar.
Foi embora todo aquele há de ser. Hoje, água e sal moram nos olhos da moça, junto com as interrogações. A cada lua, face apoiada em mãos e o não enxergar. Quem passa vê, pela janela escancarada.
Amar. Há mar. Amor perdido. Gaivota. Ela virou ilha. Ele, céu - seu.
Seus textos são lindos Jaya, parabéns, depois volto para ler e comentar com calma, com o cuidado que se deve comentar uma obra de arte da mais alta qualidade e da mais nobre estirpe.
ResponderExcluirUm grande abraço,
Átila Siqueira.
Jaya,
ResponderExcluirDe blog em blog cheguei aqui, a adorei, você escreve maravilhosamente, para béns!
Estou levando seu link, assim, fica mais fácil voltar.
Um domingo de muita paz para você!
Cris
Jaya, flor...!!
ResponderExcluirFiquei muito feliz de ver vc em meu blog... Muito obrigada.
E claro que pode me chamar de Tami.. Tenha a certeza que sempre estarei por aqui...(Tanto que já estou levando seu link pro meu cantinho sem permissão. Rs.)
Tudo aqui é muito lindo, fascinante, sabia? Este último post me fez terminar em lágrimas, vc escreve muito bem... Marinheira!
Será sempre muito bem-vinda em meu blog...
Beijos
Para variar transformando uma cena cotidiana, pensamentos cotidianos em pura poesia, em obra de arte. Lindo texto, como sempre.
ResponderExcluirAin, adoro o trabalho do Kurt, adorei quando vi que vc estava usando em seu blog ^^
Beijos
Posso te contar um segredo?
ResponderExcluirEu gosto muito do jeito que você escreve... mas muitas vezes não consigo comentar algo relevante sobre os seus textos como os comentários que você faz aos meus... Peço-te desculpas por isso.
Talvez seja porque ainda estou embriagado do sono que acabei de acordar :)
Bjus pra você!
Amores perdidos são sempre tão doídos, né Jaya? A gente se pergunta por que não deu certo? Por que o marinheiro sempre vai de porto em porto procurando por algo sendo que o amor está bem diante dos olhos dele?
ResponderExcluirTô com os dedos embargados para comentar mais alguma coisa. Perdão. Ouvindo Angel de Sarah McLachlan e lendo seu texto é até covardia nesse momento, meu coração se cala...
Sobre teu comentário lá – Você me abre todos os sorrisos, viu? Me faz pensar em almas que se conhecem a vida toda e tem afinidade infinita. Continue sonhando, Jaya. Faz muito bem e brinde a nossa vida com tuas doces palavras.
Beijo, querida e ótima semana!
ps: tenho algo pra você, mas não sei ainda se mando por email, pelo comentário aqui ou num post lá. Me aguarde.
É tão doce. Esse falar de amor que vem, que vai, da onda que afoga o coração; da sensação que transborda no peito. Palavras tristes, saudades sentidas.
ResponderExcluirDe tão sutil, abrilhanta um pouco toda aquela ternura que só a alma e capaz de oferecer.
Um texto suave, sentimental, com a cara de Jaya que pôe o coração pra escrever. E de forma tão linda, sinfônica, que embala nossos olhos.
Perfeito.
Beijocas Jaya.
Te adoro:)
Adorei seus jogos de palavras....
ResponderExcluirbeijos
amor de marinheiro há de ser pra sempre.
ResponderExcluirhá de ficar pra sempre.
como umas das tatuagens que carrega consigo.
beijo, flor.
;DDD
triste história. me lembrou a música da Adriana Calcanhoto.
ResponderExcluirtalvez ser marinheiro com tantos amores não seja bom assim. se um amor já dói tanto, imagina o que não dói vários?
beijo!
há de ser assim, o castigo da vida.
ResponderExcluirque a mulher seja sempre o barco de amôr. inda que em porto muito.
e o homem-mar. de se perder. de matar.
ave, mar.
Jaya,
ResponderExcluirTem bem uma homenagem pra você lá. Vai lá, tá?
Beijosssss
Que lindo *-* Outra vez né!
ResponderExcluirSeu texto é melódico, doce, encantador. Desperta a vontade de continuar lendo, mais e mais. Você escreve com alma, com o coração. Um dia ainda chego lá. rsrs.
Muito obrigada pela visita, fico contente que tenha gostado do meu espaço, eu gosto ainda mais do seu. Minhas visitas aqui são certas. Pode acreditar.
Até a próxima, um beijo pra ti. =*
Lindo texto!!
ResponderExcluirBeijão
Teus textos sempre com um "quê" de tristeza e um quê de beleza. Essas coisas que andam juntas, sabe?
ResponderExcluirE eu fiquei a navegar e imaginar um marinho que não o teu - meu.
Claro!!!Vamos todos brincar sim!!!
ResponderExcluirAmei seu bog Jaya...está na minha lista...o simples fato de citar Manoel..já me ganhou.
Seus textos são ótimos.
bjus
Adorei o texto, mas não estou bem para comentar algo que valha a pena...
ResponderExcluirBeijos, querida.
p.s.:e a prova, deu certo?
jaya, querida, tentei comentar o paquetá, mas nem pude acessá-lo. recebi uma mensagem de que apenas leitores convidados podem lê-lo. Você poderia me convidar, então?Gosto muito do trabalho de vocês.
ResponderExcluirObrigada desde já!
Beijos da fã.
Menina, como escreves bem, viu?
ResponderExcluirSou uma apaixonada pelo seu blog.
Ainda tô engatinhando...quem sabe um dia eu chegue lá...rs!
Agora venho sempre!
Beijooooooo!
Que linda menina escrevinhadora de encantadas palavras.
ResponderExcluirBela sua casa.
lindos dias,flor
beijos
Eu sempre penso no amor dessas pessoas que não tem data de partida nem de chegada...não deve ser fácil.
ResponderExcluirLindo tezto, como sempre.
Bjos!
Sabe Jaya, sempre quando passo por aqui fico me perguntando como alguém consegue escrever coisas tão lindas. Seu texto é um primor.
ResponderExcluirMe faz passar mil imagens na cabeça quando leio seus textos. Eles parecem ter vida própria. Os personagens que narra em sua prosa versada só faltam pular na gente aqui pela tela do computador. E dá para sentir a dor deles, a angústia, a felicidade, e tudo mais que eles estejam sentindo.
Seus textos parecem quadros vivos, que se mexem quando agente olha para nos contar uma emocionante e divina história.
Dar-te os parabéns novamente já é até chato, já que tu já deves estar farta de tanto reconhecimento pelo seu lindo trabalho.
Continue escrevendo essas coisas lindas, eu lhe peço por favor, para que eu possa vir aqui e sonhar um pouco, e me enveredar por seus textos magníficos.
Um grande abraço,
Átila Siqueira.
vÔ ler com mais atenção,prometo
ResponderExcluire postarei em breve..
meu nome é Ariana,jaya,prazer
:*
flores
Os post são feitos esporadicamente, mas qdo surge é pra derrubar com palavras qualquer um, Jaya!
ResponderExcluirVoltei com um outro blog. La Traviata deletado.
Bjus e td de bom!
eu sou tds, gaivota, marinheiro, mar,
ResponderExcluirmenina ando numa inconstacia de humor e de ideia, mudo de opiniao varias vezes no msm segundo, e dps eskeço td!
saudades!
bjos
Pode deixar que continuarei batendo estas minhas asas quebradas e tentando cantar e escrever arco-íris (nunca gostei muito de pintar).
ResponderExcluirObrigada. E quem sabe um dia eu não sirvo café ou alguma outra coisa? Beijos!
Que bom que você gostou, Jaya. Beijos!!!
ResponderExcluirMto boa a história!
ResponderExcluirAdorei!
beijo*
Jaya, vim agradecer a visita no meu blog. Fiquei muito feliz com suas palavras, que sempre me comovem muito. Adoro suas visitas e fico esperando-as com ansiedade sempre. Seus comentários são muito importantes para mim, pois ter o blog comentado por uma das melhores escritoras da atualidade no Brasil, me deixa lisongeado. E pode ter certeza que eu não exagero quando elogio os seus textos. Na verdade, eu nunca consigo expressar com palavras a beleza de seus textos, por mais que eu tente muito.
ResponderExcluirGosto demais do seu blog, e nunca deixo de visitá-lo em busca de uma jóia rara, e quase toda semana encontro. (Só fico triste que meu blog tenha saído da lista de blogs de sua página).
E não se preocupe, pois eu sei que o tempo anda curto e corrido, e assim, as desculpas que pediste por demorar a me visitar não são necessárias. E sei que tu andas oculpada. Fiquei sabendo da prova da OAB, e fiquei torcendo por ti.
Quero agradecer imensamente por seu carinho. E fiquei feliz que disseste que gosta também de meus comentários. É bom saber que lhe faço sorrir com minhas palavras, pois hoje o vosso comentário também me fez sorrir de uma orelha até a outra.
Um grande abraço,
Átila Siqueira.
.
ResponderExcluir.
...E mergulhou, assim, no
fundo do (A)mar. Beijos!!!
.
ALBERGUE*MENTAL
http://caioalbergue.blogspot.com
.
.
Jaya querida!
ResponderExcluirEu queria Paquetá tb!
Sobre o texto, sua doçura me surpreende. Até mesmo a tristeza tira sorrisos com o teu pincel.
a(amar), mar e amor. Seria o amor um mar onde afogamos nossos anseios?
Deliciei-me.
Bjs
Você me fez lembrar de uma música linda e muito conhecida do Mana, que fala sobre a história de uma mulher que se enraiza no cais, "en el muelle de San Blas", e passa toda uma vida esperando pelo regresso de seu grande amor, que parte, com a promessa de que voltaria. A promessa não se cumpre (sabe-se lá o porquê) e ela permanece ali, en el muelle, com a mesma roupa, "con los pelos blanqueados"...
ResponderExcluir"Sola en el olvido
Sola con su espíritu
(...)
Se quedó hasta el fin (...) con el sol y con el mar..."
Lindo, Jaya! Você 'poeta! Bjos!
Ele solto no amor dela presa ao navegar dele.
ResponderExcluirCadinho RoCo
me lembrou uma música da Adriana Calcanhoto.
ResponderExcluir=*
É poesia! Mas também parece um quadro! Quadro poético hehe!
ResponderExcluirE esse template novo é obra da Amanda Bia, acertei?
Bjooooo!!!!
Nossa mas é muita coincidencia pq dificil ver alguem q usou colete... oh vida!
ResponderExcluirJaya, não se preocupe, eu irei comer acarajé aí na Bahia sim sim, e logo... rs!
Seu email ja está na minha lista =D
Oi baiana,
ResponderExcluirseu texto me trouxe ares de Jorge Amado, tem qualquer coisa de "Capitães de Areia". Claro que tem também sua maestria em impregnar cada canto com poesia.
Gostei desse tom nostálgico que você usou no texto. É que o ser humano é como um marinheiro, verdade. Vivemos em reiterada despedida. E cada "adeus" parece doer mais que o anterior. Coração calejado é desse marinheiro que não se turba mais ante tanta despedida. Mas, garanto, carrega nos olhos a aflição da tristeza, da falta de raízes. Como firmará seu amor?
Por fim, trouxe pra mim que a sina do marinheiro é o mar. Ele se faz morada, se faz amante. É assim, não tem fuga. Nisso há uma vantagem: os peixes têm grandes lições.
Beijo pra você.
mocinha... me responde uma perguntinha...
ResponderExcluirQuando é que você vai escrever um livro, hein?
não estou brincando... é sério.
vc precisa escrever um!
=*
Oi, minha querida, tô passando rápido (sem tempo direito pra ler tudo), mas volto com tempo pra falar de toda a emoção que as ondas desses versos em prosa geraram.
ResponderExcluirBeijão no seu coração, dona Jaya!
P.S.: Quanto eu mais acho que vai melhorar mais complicada fica essa história de monografia. Mas fazer o que, né? Fui eu quem escolheu essa vida de Historiadora! :O(
Um cheiro e um pão de queijo gigante pra ti! :*
Um paradoxo entre o forte e o sensível que deixa a gente de boca aberta...
ResponderExcluirParabens
minha bailarina cor de estrela!!
ResponderExcluireu voltei.
eita.!
ResponderExcluirque lindeza de lugar.! eu, quis bala de puxa-puxa e amôr de interior.
depois de 44 comentários, que inclusive eu te pergunto: haja leitores participantes ãh?!... rs
ResponderExcluirmas como sei que meus comentários aqui sempre foram bem aceitos, sou o número 45.... rs
a cada dia está mais singela Jaya... mas também mais triste, aquela tristeza poética, um quê de outono... de chuva. onde foi parar a primavera de ipês amarelos e de vento brisa que leva os cabelos?
esse mar... é preciso mata-lo. todo marinheiro é ingrato por não se ancorar. e toda moça só faz esperar... ah! moça da janela! vai rodar a saia na floresta, por que de água já foi demais!...
beijo grande!!!
Nem sei o que dizer! Estou arrepiada...
ResponderExcluirLindo, como sempre.
Sabe, senti mesmo muitas saudades dos seus textos... E compreendo a sua ausência no momento, mas com certeza vou torcer para que você possa deixar mais dessas palavras aqui no seu canto. Realmente, sinto falta.
Aliás, espero eu também não sumir mais!
Beijos pra você!
ooi!!
ResponderExcluirlindo texto!
fiz um novo blog!
confere lá!
http://pordentrodasentrelinhas.blogspot.com/
beeijos =)
Beijo de saudade!
ResponderExcluirEi!! Quem deixou você tirar meu link do seu blog??
ResponderExcluirtambém tiveste essa época meio errada, meio torta?..(a minha não quer passar)..rsrs
ResponderExcluireu gostei de saber, olha de verdade imaginei vc, igualzinho como descreveste :)
Baudelaire, adoro,tbm gostei do poema,mas era inevitável não rir e achar estranho com todo aquele hálito-de-maconha!hsuahsuh...
ei, o bom é que nosso universo ta sempre em expansão..
flores
Jaya, como vc tá?!Está gostando de orgulho e preconceito, é perfeito...para pessoas com sensibilidade como a sua capaz de escrever um texto tão belo e poético como esse tenho certeza q vai adorar...
ResponderExcluirtriste avida de marinheiro sem ancorar em coração algum..sempre é bom parar por um tempo num lugar...mas há pessoas q nasceram para a impestividade do mar
Oi Jaya, tenho um presente para ti lá no meu blog, passa lá e dá uma olhadinha.
ResponderExcluirUm grande abraço,
Átila Siqueira.
ainda mais linda, tua casa.
ResponderExcluiramo tu, amo zeca.
Coisinha linda,
ResponderExcluirObrigada pelo "presente". Adorei!
Essa sua casa nova tá maravilhosa!
Preciso te mandar e-mail, mas essa duas ultimas semanas foi de uma correria terrível. Trabalho, faculdade e filho estão me fazendo perder cabelo ainda bem que tem muito pra cair...hahaha
Beijos e sorrisos procê e agora vou limpar a casa que tava rolando uma festinha por aqui :)!