Eu diria que não é assim desse jeito, que sua insanidade nunca ultrapassou seu jeito de soprar letras ao meu ouvido feito canção de ninar. Talvez sempre houvesse em você essa necessidade de apanhar meus olhos em lágrimas, rindo da minha cara de espanto ou de bebê chorão, como você gosta de me chamar. Posso ser o que você quiser, já lhe disse. Só não me leve embora aquele nosso dia que foi embrulhado inteiro e colocado na nossa caixa de correio com o destinatário escrito em giz de cera: a vocês. Foi como se o mundo inteiro estivesse num único compasso, girando num propósito egoísta: o de nos fazer dançar. Assim li no seu abraço, aquele que você me deu pela manhã, num comportamento nada físico que atravessou o telefone junto com a rádiofrequência que trazia sua voz pra mais perto de mim. Foi como se mil pisca alertas tivessem se ligado ao mesmo tempo: me veio um clarão e a sensação de que havia coisa melhor do que ler poesia. Viver poesia. Fui embora de casa numa vontade louca de encontrar você andando distraída, indo comprar nossa passagem de lua-de-mel. Morava em mim também uma saudade doentia que pedia você em qualquer rosto estranho que passava. Nunca amei assim, pensei de um jeito que deveria ter escrito, porque foi bonito. Mas lembrei que o sentir nunca vai pro papel, e essa sempre foi nossa dificuldade.
A manhã, por milagre, quis passar depressa e caminhei apressado pro nosso ponto de almoço, com o coração tão ansioso como no nosso primeiro encontro. Encontrei-a em um estado lacônico e mergulhei meus cabelos em seu ombro, buscando seu afago e remédio que me caíam tão bem. Nossa respiração mantinha o mesmo estranho som que se encontrava despropositadamente. Aquilo nos fez rir. Suas mãos puxaram meu rosto e vi um beijo nascer dentro dos seus olhos. Vi que em você, tudo nascia primeiro nas íris e depois ia tomando forma em qualquer parte do corpo, àquela que cabia. Almoçamos enquanto tocava uma música imaginária que escutávamos muito bem. Casal estranho, pensaram os que estavam em volta, mas não entendiam nada de sonhos. Você me disse do futuro e das coisas boas que nos esperavam. Acreditei.
Pensei que talvez acabassem morando em nós infinitos pluriamores sem conjugação. Seus olhos tão mais perto me botavam um medo sem nome, do tipo que me transformava em piano, fazendo notas ecoarem a cada vez que suas pálpebras se entreabriam. Você entregava um sorriso displicente, como quem dizia eu não tenho nada a ver com isso, deixando de lado a impressão ensimesmada de quem carrega uma lua em cada retina. Lembrei dos nossos defeitos fuçados, expostos, e como seu jeito cabia em meus esconderijos. Nossas mãos brincavam numa distração inocente, provando de gestos antes nunca feitos, quando o moço quis saber o que servir. E nossa música sem nunca acabar. Uma história de cinema mudo. Um tic-tac do relógio na parede central, retumbando com o bater desafinado do meu coração-cofre recém aberto. Os ponteiros todos corriam, e no guardanapo em cima da mesa, sua boca sem batom borrava de poesia vermelha aquele branco sem história. Senti aquilo de todas as letras mais lindas escrevendo sobre nós.
Você dobrou a esquina levando consigo meu sorriso e deixou em meus olhos todos aqueles sem fim de beijos cancelados pela ausência silente que era companhia quando não nos tínhamos. Coisas perdidas em caixas sem fundo, e você meu melhor achado. Quis que a noite logo chegasse para que eu te encontrasse em casa mordiscando o lápis e rodeada de papéis amassados, irritada pelas palavras que não chegavam e escrevendo amor enquanto me enlaçava outra vez naquele abraço que confirmava a maneira em como teu corpo combinava com meu desenho. Todas as cores. E logo após você sentava no braço da minha poltrona, escorregando macio para chegar até mim, enquanto a mais delicada carícia parecia ter sido construída dentro de uma eternidade que eu desejo caber em nossos minutos todos. Conversas intermináveis surgiam, e adormecíamos respirando poemas dos nossos montes de livros, fazendo exalar toda a euforia sufocada que acompanhava os momentos onde não éramos, ainda. E nessa apoteose onde nada nunca rimava, eu me (re)descobri amando você. Sem-razão.
E muito provavelmente você não saiba, mas quando seus olhos se borraram com esse fio de lágrima ao me ouvir amante, eu escorria para o seu lado de dentro. Pura teimosia sua em querer desencantar aquelas três palavras de encanto, que ressoaram como sendo um conto em meio àquela textura de sonhos que seus lábios carregavam. E foi sempre dia.
____________________________---º
______________________
Tinha lido esse texto no blog do Thiago. Achei linda a forma como você criou o final.
ResponderExcluirTudo é tão lindo aqui, Jaya!
Beijo
:*
Gostoso de mais ler esse texto..!
ResponderExcluirBjooos Jaya !
Depois de ler em um ritmo que nem respirar era perceptível, so me deu conta do meu suspiro no final. Suspiro que em silência fez: nossa, que incrível!
ResponderExcluirLindo o texto. Adoro essa forma de expor sentimentos, é sutil e ao mesmo tempo descaradamente explícito.
Vocês dois escrevem tão bem *-*
Beijos aos dois! *-*
Eu queria um mundo assim: feito você, Jayazinha! Tudo é tão lindo, simples, bom. Respiro amor quando venho te ler e faz bem danado pra mim, já te disse isso 1873626283 vezes! Tava lendo Aline hoje e ela me disse que não mais conjugaria verbos, daí fui ler e fiquei querendo mais amor pro meu dia, sabe? [carência hoje tá complicada, menina! hahaha] E vim ler "Eu, você e a praça" que eu já tomei pra mim a tempos. Aí, vejo você e Filipe aqui, fazendo perfeição, como de costume. Me prendi aqui, depois fui passear pra recordar outras letras, mas aaaaiiii... eu gostei taaanto daqui. Do encontro. Do rosto dela deitado no ombro dele. Do eu te amo simples. E verdadeiro. Aaaaaaah, chega né? Quem tá ficando "gayzinha" como você vive dizendo, agora sou eu! huhuhu.
ResponderExcluirAdoreeeeeeeeeei, trenzim meeeu!
Beeeejo!
p.s.: eu quero você nesse fds. [e sem pensar bobagiii por favor!]
Sabe Jaya.
ResponderExcluirEu consigo encontrar cores em teu blog cinza.
O colorido está nas palavras, vírgulas, pontos...
Textos lindos e suaves de ler.
Parabéns!!
Um beijo e um sorriso pra ti!
Perfeito o texto, muito bom mesmo. Li num embalo só, talvez da mesma forma que foi escrito.;)
ResponderExcluir"Mas quando seus olhos se borraram com esse fio de lágrima ao me ouvi amante,eu escorria para o seu lado de dentro..."
ResponderExcluirAh, Jaya, nem sei mais quais elogios te dispensar, porque todos os adjetivos presentes no meu vocabulário já se foram para ti.
Só sei que me encantas cada vez mais.
Beijos, meu doce!
Show!!! Eu que pergunto Jaya, cadê o livro?
ResponderExcluirAh menina aqui o encanto esta em tudo..lóogico que hoje com os méritos ao Filipe.
Adoro. Adoro.
Beijos
Nossa... Belo
ResponderExcluirtexto suave, e prende ao mesmo tempo, deu para ver tudo no traçado dos olhos...
Grande abraço!
silêncio de novo...
ResponderExcluir[vc viu que somos vizinhos de quarto na casa do thiago? ^^D]
Só vc pra conseguir essa perfeição. Vc consegue me emocionar com essas suas palavras tão bonitas.
ResponderExcluirTenha um lindo começo de semana!
Beijos,
.Luana.
jaya, querida!
ResponderExcluirestou sumida mesmo, mas dai chego aqui e leio seu texto que me dá uma vontade enorme de viver tudo isso de novo e de novo.
me tira suspiros e vontades de escrever.
a verdade é que estou assim, neutra, nem cá nem lá. vivendo devagar e muito bem.
mas ficou TÃO feliz quando você vem e me pede um texto, ou ao menos um sinal de vida, que tenho vontade de te escrever um e-mail, contando tudo, e perguntando tudo também.
te prometo algo novo, e continuo por aqui, sempre!
mas o eu te amo, ainda me parece longe de novo, hoje em dia.
beijos, saudade!
Jayazinha.
ResponderExcluirDrummond?! Que lindo hein! Obrigada mesmo pelo elogio. Amei!
Li o poema, ele é incrível!
Beijos pra ti flor!
Linda semana!!!
Paz!!!!
Sempre que leio suas palavras consigo ver e sentir suas cenas.
ResponderExcluirTão lindas, tão profundas, tão simples, tão complicadas, tão... tão... Nem sei o que. Apenas me fazem bem, me fazem imaginar um dia poder vivê-las e ser feliz!
Beijos
=***
"como teu corpo combinava com meu desenho"
ResponderExcluirperfeito, Jaya!
adoro muuuito!
:)
que bonito!!!
ResponderExcluiramores só valem a pena quando são sem-razão, flor
beijos e boa semana
MM.
desculpa então, é que o começo tá igual. ;)
ResponderExcluirDe nada!
Jaya, Jaya...
ResponderExcluirFilipe, Filipe...
Ainda tenho um infarto lendo um texto de vocês...
Lindo, simples, sensível.
Todos os meus elogios num só ato, os olhos que brilham.
Beijo!
Perdoa-me.
ResponderExcluirEu estou sempre aqui. ;)
Um beijo que dure até a próxima vez.
Me ajuda a encontrar palavras, flor? Me ajuda?
ResponderExcluirVocê consome todo meu dicionário, e ainda brinca com minhas emoções. E é aquela brincadeira gostosa que faço questão de ler, e reler e (re)ler novamente. Navego nas tuas linhas e nem faço questão de me achar. Meus sentimentos, penso, fazem tatuagem aqui.
Telepatia, pode?
Vc é puro doce-de-leite. É deleite te ler, linda!
Saudades, viu?? Nunca me esqueço daqui.
Me ensina a ser como vc, qdo eu crescer??
Beeeeeeeeeijos com gostinho de quero mais!
Obs: Apenas o tempo, que me tem me deixado louca, tem me faltado. :)
Jaya!!
ResponderExcluirTem um meme pra vc lá no Alado!
Beijão!!
Uma das coisas mais lindas que eu já senti na vida foi lendo esse texto.
ResponderExcluirPerdi o fôlego!
Beijos.