Que eu faça fantasia mesmo acordada.
[Fabrício Carpinejar]
Desliguei o telefone e soltei em cima do colchão. Deitei abraçada a ele. Acabei de chorar um jasmim, absorta para o meu lado de dentro. Guardada em mim mesma. Ali, contando nos dedos minhas miudezas, dando nomes, medindo gestos, buscando maneiras novas de me esconder. Ultimamente é ali dentro que a vida vai, e quase ninguém vê.
Ultimamente eu ando cheia de fé. Ando dando atenção aos papos mais furados. Tenho escrito cartas longas. E aqueles medos excessivos não são insones, como antes. Saio por aí olhando em volta e agradecendo. Vou à igreja e choro, sem ninguém notar. Tenho me emocionado com facilidade, também. Tudo tão naturalmente, o tempo todo. Vida, vida.
Fuço distâncias sem deixar doer. Falo de sentimentos de um jeito muito lento, que é para não precisar repetir. Mas acabo me embolando, como sempre. Volto a ouvir muita bossa e puxo do meu lado doce, meu menor lado, um pouquinho de conforto para deitar na cama onde um pedaço meu derrama angústias.
Recuso cinismos. Continuo a não gostar da poesia que rima e fecho minha boca para a língua não tentá-la com aquela eterna história de queroeuquerovocê. Fecho e abro, porque deixar de engolir estrelas não é permitido.
Dos meus bolsos despencam ternurinhas, enquanto caminho. O momento em que nasci. As lágrimas de minha mãe ao me ver partir sem olhar para trás. Meus olhos, ao ver o mar. Meu primeiro beijo. O gosto de guaraná do parque da minha infância. O dia em que esse moço apareceu dentro de mim. Os olhinhos da minha menina de lá. As viagens com meu pai. O cheiro de café da casa de vó. Meu gosto insano por sorvetes. As orações antes de ir dormir. Frases do primeiro livro que li. Minhas madrugadas insones. E um e outro amor, em conta-gotas.
Sempre gostei de amar assim, baixinho. Sem contar, sem espalhar, sem deixar caber tendências. As coisas são bonitas, correndo entre as veias. E para mim, a coisa mais linda do mundo pode ser o momento em que um cílio dele cair na bochecha, enquanto dividimos um sorvete. Nunca precisei de grandes motivos para sorrir. Tudo cabe nas pequenezas. No delicado. Numa fuga para dentro de alguém, talvez.
Escuto os eucaliptos do bosque aqui ao lado murmurando arrepios que são muito meus. Depois rio de mim, lembrando do amigo que me perguntou a que espécie de gente eu pertenço. Lembro de dizer-lhe que não pertenço. Sou agora, e depois deixo de. E se às vezes exagero, é por não saber caber em coisas menores.
Já é mais de meia-noite. Saio do meu quarto e fico rondando a casa escura. Penso em como seria a cena, se eu fumasse. Sento na porta do corredor ao lado, em posição de meditação, e me surpreendo ao notar que sonhando eu fico natural. Não vejo a lua. Deixo queimar todo esse incenso de canela. A essência se solta em forma de espiral e me atinge, dispersa.
Um silêncio. Uma vontade de pegar o telefone, de novo. Outro destino. Uma voz de sono do outro lado, talvez. Minha voz de carinhos só dele. E todas essas palavras desconexas que me desviam. Nenhuma surpresa, nenhuma. Um acúmulo em mim, feito de mil e uma misturas.
Tô aqui porque a vida me trouxe, aqui. Não gosto sempre. Mas enquanto tiver coração, eu sigo. E caminho. Despenco. Aos trancos, mesmo. Porque tem delícias maiores no meio da estrada. E eu gosto de ir junto com as coisas. Com as cores. Com o vento que decora meu nome. E melhor que tudo isso, sempre tem uma razão linda: amanhã vai fazer sol.
De volta ao quarto, um jasmim no meu travesseiro. Escrevo, agora, na minha parede branca, antes de ir deitar:
- Preciso acontecer.
É um amor desmedido, por tudo.
seu texto me trouxe recordaçõs imensas de minha vida. tb quero escrever algo e minha parede. talvez algo sobre minha primeira coca-cola. vc cita coisas que parecem bobas, mas são tão grandes!
ResponderExcluirbelo!
Vocé é linda, Nêga. Isso aqui foi pra lá de inteiro. Palavras que te personificam. Que dizem taaaaaaaaaanto pra mim, que li tudinho nas entrelinhas. E que fico aqui, me remexendo, querendo falar um tanto de coisa. Querendo muito, ver acontecer. Pra sorriso teu nunca mais sair do rosto.
ResponderExcluir- Sorriso igualzim aquele da foto que me mandou no dia das crianças. Da gente trocando passado e sentindo felicidade em momentos trocados. Quero aquele sorrisão lindo em novembro. Ah, eu quero!
p.s.: Love u!
=)
Leio o amor em suas palavras. Obrigado! Fazia algum tempo que eu não visitava o meu coração. Beijos!
ResponderExcluireu não consigo amar baixinho, rs*
ResponderExcluire até gosto de poesia rimada, dependendo do poema, do poeta e da rima.
beijos, flor
MM.
>>> ando precisando ficar cheia de fé, também nos últimos tempos....
Jayaaaaaammmm!!
ResponderExcluirEsse texto trouxe uma mistura de calma e inquietação. Fiquei lembrando das pequenas coisas que já vi e senti... Lembranças. Às vezes o silêncio toma conta e amar baixinho é tão bom.
Me lembra Quintana.
Beijos, moça!
eu me dividi aqui. sou tudo isso aí de você rânei. só que eu fumo, e numa dessas voltas pela casa abro a porta e saio no quintal, ascendo um cigarro no lugar do incenso, me sento em algum canto e fico olhando a lua (ou a não lua das noites nubladas) enquanto queimo meus pensamentos na fumaça tóxica, mas que me alivia por alguns instantes de anciedade.
ResponderExcluirmas olha, chora mesmo, que chorar faz bem, a gente lava as tristezas e a as alegrias. eu também ando tão sensível e emotiva que até os comerciais de margarina me fazem chorar.
eu nunca te vi, mas te acho tão linda que já fiz versos soltos de você. uma hora eles irão pro papel, aí eu te mostro.
ouve isso aqui ó: me dá me dê me diz do tom zé.
tebeijo
Lendo e lenbrando... da maior declaração de amor que já ouvi... foi no silencio daquele olhar, já tão meu...
ResponderExcluirBelo Texto! moça!
Grande Abraço!
Minha Jaya!
ResponderExcluirComo me vejo escrita em seus textos!
Amando baixinho, precisando acontecer...
vc é tão linda! Tão expressiva...
Completamente amável!
Obrigada por me fazer mais humana... Por me fazer saber que minhas dores e meus momentos mágicos não são só meus!
O beijo, Minha Jaya!
tão irmã, do sentir, que me treme os ânimos.
ResponderExcluirQue este acontecimento chegue logo, menina linda...
ResponderExcluirSaudade também, muita!
Beijo e mais beijos
Linda! Poesia e alma, ambas, lindas. Sempre me pego a adimirar, e esse texto além do mais, nos ambientaliza de lirismo.
ResponderExcluirLindo.
Postei um poema, muita coincidência, quando cheguei em casa, havia escrito no ônibus, vi seu comentário.
Se estavas a procura. Lá tem um agora.
bjos, Jaya
Eu vou ficar, aqui, te olhando sorrir. Isso me ilumina.
ResponderExcluirÉ um amor imenso, por tudo.
Muito lindo, vontade de viver a vida toda d uma vez só!
ResponderExcluirTe encontrei na minha amiga Ni, gostei muito de ter te encontrado. Li, li e me achei muito em suas palavras. Um pouco de melancolia sempre nos toma e o romantismo sempre nos conduz. Parabéns pelo espaço, pelo texto.
ResponderExcluirMeu carinho.
Bjus
Parece que você escreveu esse texto pra mim .
ResponderExcluirPerfeito .
Adorei .
=**
A vida vive me trazendo a vários lugares. Em uns eu fico, depois vou embora e trago de souvenirs as lembranças.
ResponderExcluirAI JAYA, QUE PORRA, ODEIO SER CLICHÊ, MÁQUELINDO *-*
(ok, me adcione AGORA no orkut garota)
Me surpreendo ao notar que sonhando eu fico natural.
ResponderExcluirA minha vida é feita de sonhos, alguns despedaçados, mas outros bem inteiros ainda.
Beijoooos Jaya.!
Ei moça,
ResponderExcluirPergunto-me porque estou aqui?
E lembro que não há acaso.
A vida também me trouxe. Em silêncio..
Precisava conhecer uma poetisa que sentisse o amor..falasse de amor.
Fosse colorido ou em preto e branco..
Que espalhasse esse amor por tudo em tudo.
É.. e descubro tua missão, sem cobrá-la, até então.
Só não esta sozinha..
Beijos meus
Doce Jaya.
ResponderExcluirSenti vontade de chorar e rir!
É um presente ler os seus textos. Amo!
Beijos girassol!
Que delícia de ler essa sua delícia de viver.
ResponderExcluirSim, amanhã vai fazer sol.
Vamos todos acontecer, Jaya. Vamos viver, então.
Um beijo!!
é que o amor não vem só.
ResponderExcluirnotei isso há um tempo. e depois que foi tempestade e sobrevivi, nova em folha, quer dizer, em orvalho, tentando colocar cada coisa no seu lugar e feliz por tudo que está fora de si, fora de mim. sei da felicidade dum jeito, da felicidade do outro. e sei também que tudo é bom se a gente sente esse amor imenso.
jaya, que lindas suas palavras. como sempre, e eu não canso.
minha vida, como disse, anda me jogando pra tantos rumos diversos que estou perdendo, no bom sentido, as rédeas de tudo. por isso demoro esse tanto pra aparecer, o que não é bom, mas anda sendo necessário. por iso preciso te falar que fiquei muito feliz pelo seu último comentário.
saiba que espero os seus anciosa também lá no meu cantinho.
você é a filha mais nova que a clarice sabe que teve, só pode.
é impressionante como tudo aqui é lindo e sutil.
eu descarrego minhas palavras por aqui, e me sinto falando com quem e de quem eu entendo bem. tenho lá minha razão, por se você é igual eu, tudo que tá aqui é você.
lendo isso eu pensei no chico dizendo: "que é pra te dar coragem, pra seguir viagem quando a noite vem".
e nós, pelo que pude perceber, estamos vestidas com todas as armas da vida.
beijos, por tudo.
Recordações. Detalhes. Saudade. Não sei se é saudade mesmo daquilo que se foi ou daquilo que não tivemos (como se fosse possível sentir isso). Sem porque lembrei do trecho de uma música da Legião Urbana: "...és parte ainda do que me faz forte; pra ser honesto, só um pouquinho infeliz. Mas tudo bem, tudo bem, tudo bem. Lá vem, lá vem, lá vem de novo. Acho que estou gostando de alguém e é de ti que não me esquecerei..."
ResponderExcluirAbraços e muito azul!
Quanta doçura sem fim, daí de dentro! Suas palavras me trouxeram paz, Jaya. :)
ResponderExcluir"Fico quieto. Primeiro que paixão deve ser coisa discreta, calada, centrada. Se você começa a espalhar aos sete ventos, crau, dá errado." Você ama, como o Caio F. - que ama igual a mim.
Beijos doces :*
Jaya, deleto meu orkut se esse for a receita para escrever tão bem assim. E tá, não vou mais te elogiar, os elogios ficam para o teu próximo post, minha cara
ResponderExcluir=*
Já mencionei minha compulsão-loucura-paixão por frases finais, né? Quando são bem aplicada deixam uma coisa gostosa dentro da gente.
ResponderExcluir''Preciso acontecer'', meu Deuuuuus!
HAHA, Já perdi desculpas ao pc.. falei que a culpa era da jaya, que mexe comigo até quando não diz nada - literalmente.
Eu sou demais repetitiva ao comentar que chorei ao te ler.
ResponderExcluirEu preciso acontecer, tanto quanto. Um amor desses, me faz doer. E ele anda do meu lado, me estendeu a mão e tenho medo de tocá-lo, tê-lo pra mim de novo. Doce.
Você, bonita. É encando demais em palavras cinzas e tristes. É poesia, linda de doer. Um sentir teu que se faz meu, inexplicavelmente.
Que amanhã, faça sol.
Beijo doce.
Eu tenho q respirar fundo lendo seus textos. Assim, sem avisar, suas palavras vão entrando pelos olhos e vão revirar as coisas lá dentro do coração. Inclusive as escondidas...
ResponderExcluirPasso mal!
Ahhhh, reverência pelo texto anterior que tem um trecho de 'o teatro mágico', Sina Nossa...
Preciso colocar um link pra cá lá no blog, já fiquei mega fã ♥
"Ando tão à flor da pele
ResponderExcluirQualquer beijo de novela
Me faz chorar
Ando tão à flor da pele
Que teu olhar "flor na janela"
Me faz morrer..."
(Zeca Baleiro)
eu nem preciso riscar algumas paredes aqui em casa.
ResponderExcluirDOce. Lindo. Daqueles que faz pensar...
ResponderExcluirAdoro esse teu jeito de escrever. E sei que já tu cansa de me "ouvir" dizer isso, mas é que sempre me encanto...
E ei... Deixa sim acontecer!
Beijo
Não sei porque fiquei tão afastado de palavras tão belas quanto as suas Jaya... enfim.
ResponderExcluirGosto desse sabor refrescante de vida. Essa delícia poética na coisas ao redor.
As sensações são assim rodamoinhos de tensões e calmarias.
Magnífico.
Tuas palavras entram na minha alma, como luzes clareando o caminho...
;)
Assim só posso agradecer e dizer,
Belíssimo.
Beijo carinhoso.
:**
--
http://oscaleidoscopios.blogspot.com/
Agradeço aos ventos que me transportaram até este lugar.
ResponderExcluirNunca mais perderei este endereço.
Beijos...E uma iluminada semana.
eu não sei,mas acho que estas te eternizando por dentro,por fora.
ResponderExcluirAqui em mim.vc me faz bem,Jaya.
Flores.
...é lindo esse teu amor intenso, imenso, por tudo, e pelos caminhos!.. Vc é esse jasmin que se encontra ao travesseiro todos os dias, eu sei q é, leio isso em tuas letras, elas dizem muito de vc!
ResponderExcluirQ bom, pra nós!!
Beijo, flor!
"sou agora, e depois deixo de. E se às vezes exagero, é por não saber caber em coisas menores." Isso diz de mim, também!...
Jaya!
ResponderExcluirFiquei feliz que gostou do nosso cantinho :) a intenção era realmente, em confundir geral. Muahaha
Acho que já comentei isso com a Maria, se você (e mais alguém's do blog) viessem pra cá e panz.
Vem pra cá, menina. tá esperando o que? hihi
Vais ser bem recebida, te garanto!
Beijos, Doce Jaya. :*
(Brenda)
As suas palavras me cativam, num tom onde tudo tem um cheiro de primavera, és doce.
ResponderExcluirE eu, voltei.
Bjs
É, parece que alguém está dando um tempo, depois de tanto crescer e virar gente grande para o mundo; e está crescendo para dentro. Causa uns choros escondidos, às vezes internos, mesmo, mas faz um bem indizível!
ResponderExcluirDespenca, mas levanta, e segue porque pode seguir...
=)
Estava com saudades de passar por aqui...
Aliás, tem Meme procê no Krippendorf... vamos divulgar o que você anda lendo, divida o pão, companheira!!!
Beijaya!!!
Saudades!!
ResponderExcluirUm beijo e uma quinta de muita luz!!
Vim aqui sentir cheiro de jasmim de novo e aprender dessa sua sutileza violenta de ser tão bela.
ResponderExcluirEsses nossos corações irmãos...
ResponderExcluirEsse amor descomunal pela vida...
Amor que a gente sente e é com toda a intensidade.
Só você mesmo, Jaya!
=)
Eu também não gosto de poesia que rima!
ResponderExcluirGostei dos jogos de palavras, das reflexões, das boas frases e construções das suas idéias.
Você sabe usar as letras menina!
Parabéns!
P.S.: Sim, você está doida(rs)...estou brincando, aquele texto já foi publicado, só que no meu outro blog.
Um grande abraço.
Nêga, to morrendo de saudade! Eles estão me matando de tanto trabalhar! Sugando até a última gota. =\ Tô chegando em casa e caindo na cama, literalmente.
ResponderExcluirAparece.
Beeeejo! =)
Deus está nos detalhes""
ResponderExcluirum beijo!
Sempre que venho aqui, parece que encontro algo que precisava ler para acalmar o coração. Esse texto me emocionou um tanto, que nem sei te dizer o quanto. Só sei que sorri, chorei, e me senti abraçada por essas palavras tão doces. Obrigada por isso. Obrigada por escrever. Um beijo meu...
ResponderExcluirLindo! O texto todo é um poema maravilhoso. E cada trecho lido separadamente também dá um poema...Gosto do jeito como você escreve. Me faz lembrar Clarice, sim aquela Lispector. Beijo, doce menina de nome Jaya.
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