Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.
[Chico/ Francis Hime - Trocando em miúdos]
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde.
[Chico/ Francis Hime - Trocando em miúdos]
Eu fico abraçada aos discos antigos. O violão me espia, mudo. Espalho papéis no chão e passeio entre todas essas letras caladas. Me debruço sobre versos já tantas vezes lidos e me alugo para sonhar, como o poeta da solidão. O incenso queimou. Já não lembro teu cheiro.
Guardei a dor em casa e vim ao teu encontro. É aqui, nessa folha branca, que eu te amo. Cultivo um perfil desbotado de sorrisos, desabitado de carícias, mas te permito em meus olhos. Eu subo as escadas, mochila nas costas e o apartamento se manifesta com inúmeras coisinhas desmaiadas.
Um passo a mais, o espelho. Minha ternura por minha imagem apenas por te saber havido ali dentro, refletido há algumas horas. Cabelo preso num coque, moletom, jeans, tênis e um perfume caro. Me espio. Piso no cigarro e observo o nada pela sacada. A fumaça vai como um suspiro para o mundo. Vem a mim como um congestionamento interno. Me falta a euforia depois do teatro. Um amor acabando na sorveteria. Minha conta de telefone já não te anuncia há meses.
O som ligado no quarto me chama. Toalha molhada na estante. O ambiente é puro café para as melodias caetaneadas. Mora na filosofia. A impressão é a de que o mundo já acabou faz tempo. Fico com a possibilidade imbecil de te ouvir numa concha, nos verões etéreos, disputando a harmonia do mar. Importa são as escalas da tua voz brincando de dar nó em todos os coraçõezinhos que me percorrem.
Chove lá fora. Chove azul, luz, água. Eu carrego um gosto de dois anos atrás, sorrio meia dúzia de amores tortos e me recomponho. Tenho mania de guardar carinhos. Amarro as pontinhas doces de tudo, insistentemente. Não troco minha poesia solta por nada que não rime com línguas, dentes e saliva. Poesia desaforada, escandalosamente cheia de buracos. Precisando de costuras. Talvez o papel vire renda.
Deito na cama de lençóis sem estampa e, no teto, passo o amor a limpo. Queria te saber por dentro, hoje. Inventar uma palavra que não tivesse nome de sentimento. Te preparar um beijo antes que você terminasse o vinho. Me espreguiçar fotografada por teu rosto e te ver me guardando em tuas pálpebras, me deixando escorregar em tuas curvas instantes depois. Escrevo sem borrachas, mas viro a página.
Que sejamos agora sonhados pelos outros. Quarenta e nove cartas de amor na minha caixinha do correio e um lugar vago no banco de passageiros do meu fusca. A vida é cigana. Essa noite vou a pé. A cidade já dormiu e eu não quero nunca terminar de começar.
Caminho devagar para me molhar mais. Para depois, escorrer mais. E agora, com o coração estupidamente dilatado, absinto-me. E voo.
Preciso de alguém que me segure com a boca.
E mais uma vez você me fez ficar sem respirar, você me surpreendeu, você me prendeu em meio às entrelinhas. Belíssimo, Jaya. Combina com teu nome, rs.
ResponderExcluirDesculpe a falta de palavras, mas não há o que eu diga para descrever tamanha preciosidade.
Um beijo, querida.
Para variar, lindamente doído!!!
ResponderExcluirAmo essa música, e sua visão nela só a impregnou de mais significados bonitos. =)
Incrivelmente, sempre sorrio lendo isso aqui. Para um cara chato como eu, isso é tão raro...
Tá vendo, eu deveria estar dormindo, mas você não deixa...
Beijaya!!!!
Ah, vida cigana.
ResponderExcluir:*
A noite dorme mas o dia amnhece.
ResponderExcluirE a vida continua..
Beijos Moça.
a gente lê cada frase e nota como você e as palavras tem qualquer coisa bonita as ligando.sabe que a vida cigana,essa vida de acasos ,de cartas,papeis em brancos,contas de telefone que a um bom tempo não vê um numero decorado por nós traz uma inspiração boa,uma inspiração que liberta.
ResponderExcluir.
ResponderExcluirbeijos de luz procê!
Teu canto sempre me ilumina!
=)
Nu! Só falo isso: Nu!
ResponderExcluir"Preciso de alguém que me segure com a boca."
Volto a acreditar em algumas coisas quando venho te ler. As vezes, esqueço de algumas e volto a lembrar. As vezes, desacredito e volto a sonhar.
Amotu.
Beijo, quase-piri.
Glau
Doce Jaya.
ResponderExcluirMais uma vez transbordou teus bonitos sentimentos.
Fico daqui, com os olhos brilhando por conta de tuas letras.
Amo teus textos longos. São tão agradáveis. São tão você!
Tenho que dizer, se eu sou azul. Tu és todas as cores bonitas.
Te adoro, moça!
Beijos e um abraço apertado pra ti girassol!
Ah, obrigada pelo belo comentário.
ResponderExcluirLindo! Amei!
Mais beijos! ^^
Jaya
ResponderExcluirSe precisa de alguém que te segure com a boca:
Lembra que os dentes afiados podem cortá-la. E se ele te abocanhar pelo coração, você jamais vai voltar a ser a mesma.
Minha caneta está possuída. E essa maldita não me tras outra coisa, a não ser fome e frio.
Te abraço com cuidado.
Minha querida, até nos teus comentários, você me encanta.
ResponderExcluirE sim, acredito que um dia você já tenha passado por isso, quem nunca passou?
Fico lisonjeada por ter alguém como você para admirar os meus textos e fazer parte deles, assim como eu.
Te deixo outro abraço, para que sejamos amor.
Um beijo.
que lindo, que lindo.
ResponderExcluirparabéns; vc tem as palavras nas mãos, a poesia na ponta do lápis, e, transforma em belas combinações, aquilo qeu tentamos em vão gritar.
um forte abraço
O que gosto na Jaya é isso de usar palavras nos lugares onde ninguém mais usa.
ResponderExcluir--
tanta gente já me disse que mudo mais que todas as outras pessoas.
minha natureza (:
Devolve meu ar Jaya!
ResponderExcluirHoje eu sinto EXATAMENTE tudo isso.
"Preciso de alguém que me segure com a boca."
Cê me mata, sô!
Jaya,
ResponderExcluirque leitura intensa promoves. E me faço nua diante suas letras, enlaçada no guardado se desabrochar. O lençol estampado me transmite pertubação, mas um lençol liso a visualização do que está por dentro. Está por dentro as partituras indeléveis, que me escreve em pálpebras. Toda palavra que tenha sentimento em arrebate, e o beijo e o vinho casados. É sede de completo, inteireza!
Um presente pra ti:
A curva dos teus olhos
dá a volta ao meu peito
É uma dança de roda e de doçura.
Berço noturno e auréola do tempo,
Se já não sei tudo o que vivi
É que os teus olhos não me viram sempre.
Folhas do dia e musgos do orvalho,
Hastes de brisas, sorrisos de perfume,
Asas de luz cobrindo o mundo inteiro,
Barcos de céu e barcos do mar,
Caçadores dos sons e nascentes das cores.
Perfume esparso de um manancial de auroras
Abandonado sobre a palha dos astros,
Como o dia depende da inocência
O mundo inteiro depende dos teus olhos
E todo o meu sangue corre no teu olhar.
Éluard, Paul (1895- 1952)
Abraços,
Priscila Cáliga
E se não fosse a data no inicio de cada carta, eu não me lembraria que dia-mês-ano ele me mandou a ultima. Ontem eu estava conversando com um amigo e disse, sem querer:"Se ele me voltasse a escrever cartas...".
ResponderExcluir---
Minha Tia vai pra Belem e disse que vai tentar trazer o sorvete de Cajá pra mim. Menina, to aguada!
Aqui, no shopping, abriu uma mini sorveteria "Sabores do Serrado". No menu tem, mas sempre que eu vou comprar não tem mais ¬¬ Uma das atendentes tentou me enfiar goela a baixo um sorvete de Cajamanga. Mas eu sei que Cajamanga não é o Cajá da Jaya.
*o*
Um beijo, menina bonita!
Estou aqui, Jaya. - Sinto conforto em lhe dizer isso e até abro um sorriso doce dos raros que tenho.
ResponderExcluirPor onde ando?
Se eu responder que crio calos sem ver direito o caminho, você entende?
Não sei mais escrever, mas vão daqui alguns meses de beijos verbalizados.
p.s. "2010...?" Verde! ;)
Mas, uma vez fico fascinada com o texto!
ResponderExcluirFabuloso Jaya, fabuloso!
Saudades viu?
Bjos e boa semana!
amei aqui...
ResponderExcluirmuito lindo tudo
postagens e layouts
seguindo
permissão para por esta postagem no meu blog, claro que com os devidos creditos..
aguardo resposta
bjos
seguindo!
Jaya doce.
ResponderExcluirVocê foi indicada ao Selo Querido Blog Meu! Parabéns!
Beijos pra ti!
Uma coisa sobre o selo, mesmo que não o coloque aqui. Pode só escrever o conto que fico feliz!
Demorei, mas voltei... ou melhor, estou voltando.
ResponderExcluirE do teu texto, não sei o que me deu, mas algo dele bateu em mim. Tipo sintonia que a gente não explica, sabe? Com exceção do amor teminando na sorveteria, acho que tem algo desse texto em mim.
Enfim, enfim, ficou ótimo como todos os outros. Clichê, né? xD
Beijão, amore!
Sabe quando bate lá dentro?
ResponderExcluirdá até um aperto, uma dorzinha que incomoda mas é boa.
Ah, e sim, lembrarei sempre de nunca terminar de começar!
obrigada por escrever
Ah, Jaya, suas palavras sempre me arrancam suspiros e uma PROFUNDA admiração por seu talento!
ResponderExcluirEu adoro esse amor declarado! E o amor doído parece ainda mais amor. A saudade parece ter o poder de realçar cada nuance de todos esses sentimentos...
Lindo, lindo demais. Quero, como teu texto, ser fotografada pelo rosto dele e ser guardada em suas pálpebras. Uma poesia assim deve ser impressa em cada um de nossos dias!
Um beijo!
MTOOOO obrigado moça!
ResponderExcluirvocê precisa é deixar de ser chata, e escrever logo um livro.
ResponderExcluirsó isso.
saudade! beijo!
:)
Arrebatador! Fiquei chovendo... E foi lindo!
ResponderExcluirBeijos!
sou lerda demais. :P
ResponderExcluirque dia é o seu??
já foi?
beijos!
Ei, posso voar com você?
ResponderExcluirJaya,
ResponderExcluirTuas palavras são como melodias em minha vida e eu não sei o que seria delas para o meu crescimento. Então peço-lhe que leia esse texto ( http://oitoenove.blogspot.com/2010/03/fim-indesejavel.html ). Diga o que quiser. Mas eu preciso muito que me ajude.
Um beijo, minha querida.
Ei, Jaya! Teu texto fez-me lembrar um poema recitado pela Bethânia e o seguinte trecho me veio logo à mente: "nas xícaras sujas de ontem, o café de cada manhã é servido. Mas existe uma palavra que não suporto ouvir e dela não me conformo". A vida; uma imensa bola-gigante-de-neve-que-roda-roda-roda... Zonzos, assim ficamos. O dia seguinte, porém - além da ressaca - vem carregado de um misterioso e inconfundível recomeço. Sem ele, sem você. Nunca se é mais o mesmo quando se bebe o tal vinho do amor. "Devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu". Melhor seria, talvez, "devolva-me as lágrimas e as horas em que esperei - ansiosa - por uma mensagem ou ligação" ou "devolva-me também aqueles dias de primavera em que vivi sonhos com nós dois" ou ainda "devolva-me as palavras, as melhores que eu tinha e te dediquei". Mas o tempo passa e fica um gosto pesado na boca, quase amargo. Lamentar é para tolos; os sábios simplesmente desarmam acampamento e procuram novos horizontes, e encaram seus precipícios só para depois levitar por sobre campinas planas. E abrem os olhos. E sorriem. Viver é sempre uma surpresa.
ResponderExcluirJaya, Jaya ...
ResponderExcluirPrecisa-se sempre de quem nos segure com a boca. A boca dos beijos mas, principalmente, das palavras. Elas, sim, prendem. Você, linda, como sempre.
Escreve, vai?
Talvez seja isso o que nos faz melhores, essa estúpida vontade de sobreviver. Arrancamos do que gravita a segurança de sonhar e recuperamos na tosse o fôlego daquilo que irritou nossa garganta.
ResponderExcluirVoa sim, Jaya. Que a gente se encontra nas nuvens.
Deliciosamente arrepiante... onde eu estava que ainda não tinha comido as tuas letras? Óh, céus...
ResponderExcluirBeijoprocê, moça.
Até breve