Em frente ao mar, respirando todo esse verão
imenso, meus olhos observam uma quantidade infinita de poesias voando, loucas,
pendurando-se descansadas no emaranhado dos meus cachos. Fora dos trilhos
admiro a vida passando, esse trem que constantemente me atropela e me (re)leva.
Entre santos e demônios, escolho fazer uma oração silenciosa. Deixo cair na água
cada um dos meus socorros e desamparos. As ondas sempre sabem distinguir as
oferendas. Afoga-se o que já não é oxigênio, os caminhos são abertos com as
vistas límpidas e o que fica é sempre azul. Vestida de branco, canto a paz,
baixinho, e agradeço por ser filha do cosmos. As coisas mais bonitas que
existem pedem coração, e não óculos, para serem enxergadas com mais precisão. Nada
mais preciso que sentir.
Pisciana, março, dia santo, primogênita, muita
alma de muitos anos passados, intuitiva, ametista. Ensaios sobre alguém que
posso ser. Uma onda psíquica regida por Netuno, com uma espiritualidade latentemente
constrangida. Realizo uma sensibilidade que se desmancha enquanto as rachaduras
de muros internos vão sendo quebradas para que as idealizações tenham por onde
fugir e o tangível possa entrar. Espero. Lua escorpiana, emoção visceral
intensidade vermelha urgente tão bicho que desequilibra as balanças do mascarado
e harmônico ascendente libriano. Nãomexecomigo, se me acender explodiremos
juntos e eu só gosto assim. Chega muito perto do que sou e acabará me sendo, com
e sem licença poética. Nos alinhamentos astrológicos meus pontos se conectam a
tudo o que está. Amasso rascunhos e produzo originais tão verborrágicos que ninguém
ainda teve coragem de editar. Extensamente líquida, escapo por qualquer fresta. No meu decreto somos todos desobrigados, basta agradecer.
Fevereiro chegou e o Brasil está machucado. Sobra
essa vontade de criar uma palavra que seja um gesto tão bonito quanto rosas
saindo de canhões. Os dias seguem desestruturados e daqui a pouco começa a
chover. Tentei moldar uma fechadura onde coubesse uma chave que trancasse todas
essas inconsistências que existem diante dessa coisa de viver. É muito dolorido
lidar com catástrofes, escolhas ruins e línguas que não sabem falar humanitariamente.
Meu país segue desgovernado por quem não me representa e invento uma profissão
nova, essa de me dedicar à contemplação dos passarinhos, quem sabe assim eu
acabe envelhecendo com menos tristeza e um pouco de céu no rosto. Recorto
pontuações que trazem esperança e seguro nas mãos que me cobrem com um manto
muito afável. Vai ver é apenas um resfriado. Andando de metrô eu tenho ideias sobre
como construir outro planeta, até a hora de acordar.
A cidade não guarda mágoas, parece quase feliz.
Com os pés na areia, penso sobre raízes. O sol dourando meu rosto como se
quisesse acender minha atenção para todos os caminhos de luz. Qualquer hora
dessas eu chego e acabo sendo. O mundo gira e todas as energias circulam, as partes graciosas podem respingar. Gosto
de andar de bicicleta e de tomar sorvete. O amor me anestesia diante do mundo. Já vi revoluções acontecerem num bar, entre copos de cerveja e cordas de violão. Precisamos mudar de casa e talvez a gente se case amanhã. A
mesa da sala está cheia de livros e tem uma fotografia satisfeita e bem completa na estante.
Coisas aleatórias rendem boas conversas e quando a gente se encara de manhã
cedo sinto essa vontade de sonhar, mas a realidade é também doce. Quando falo o nome dele agora conto sobre mim. Quero morar em Cartagena, ainda que por apenas duas horas. Mesmo quando eu vou ali a gente fica junto. Olho
com carinho o telefone quando o amor é quem chama e é sempre tempo de escutar sua voz: toda vez parece muito o dia em que ouvi minha banda preferida tocar ao vivo
pela primeira vez, mesmo quando é só para confirmar a lista do mercado. Posso não saber falar sobre quase nada, mas escrevo e amo e acho isso muito
sério. Meu maior interesse é sobre o que ninguém diz. Choro fácil, pode me beijar, é permitido ser feliz mesmo quando a vida
for triste.
A delicadeza é a melhor arma. O amor, munição
infinita. Aqui começa o meu combate: quem quiser que atire a primeira flor.
Eu também quero exercer essa profissão, olhar a inocência dos passarinhos e esquecer a perversidades dos homens.
ResponderExcluir(Pelo menos, entre os homens, há poetas. Obrigada, Jaya, por estar entre eles e nos presentear com palavras assim ♡)
minha filha do céu, que puta texto!! é você inteira, aberta, rasgada. é você nesse início de 2019 que não tá tão fácil quanto a gente queria, mas vai ficar!
ResponderExcluirsabe o que eu queria agora, assim, rapidão? só mesmo estar do seu lado e te dar um abraço dizendo que eu tô aqui. ou não dizendo nada, mesmo, porque você sabe.
vamos ali morar em Cartagena por duas horas? eu topo um monte!
Preciso te ver!
<3
p.s.: você é toda foda pra caralho (porque faz tempo que eu não te falo isso). e eu morro de orgulho!!!
Que mesmo em lágrimas, possamos ser coração cheio de paz, olhos a transbordar amor e luz! Minha Minas querida chora, ainda por 3 anos atrás, e por mais quanto tempo, só o tempo dirá... Que os anos tragam consolo, que nas ondas desse mar se acalmem as feridas, a paz banhe nossos pés na areia, e a vontade de viver. Sempre!
ResponderExcluirMaravilhosamente as palavras te são!
Abraço carinhoso minha querida Jaya.
Menina Jaya, tua poesia voou até o jardim aqui de casa... tem um ano que me perco no contemplar os sabías que fazem mô bagunça no terreiro. Me alegro como Francisco de Assis...sim acho que você sabe dele...o louco de amor pela criação...obrigada pelo escrito.Traz vida! Axé! Awerê! TXAI!
ResponderExcluir*sabiás
ResponderExcluirEsta aqui o meu comentário em forma de flor. Como a poesia se faz precisa em tempos tristes como o que estamos vivendo. E foi essa sua poesia que acalmou meu coração.
ResponderExcluir"As coisas mais bonitas que existem pedem coração, e não óculos" - isso poderia virar até tatuagem, haha.
Fica com Deus, Jaya! Texto lindo de viver <3
Ah, sobre a sua explicação do domínio do blog = muitíssimo obrigada :)
ResponderExcluirAmo teu cantinho!
Bjo
Tomara seja apenas um resfriado. E sobre atirar flores, suas palavras são brotos que fazem florescer os canteiros dentro de nós.
ResponderExcluirTe abraço e te admiro.
menina,
ResponderExcluirque bonito tudo por aqui :')
Também te admiro muito.
ResponderExcluirLer o seu blog é ler a esperança e o amor em cada palavra.
Os meus olhos cansados se renovam através dos seus belos textos. Obrigada!
Beijinhos.
Eiiii moça.
ResponderExcluirAcostumei assim...quando nada mais funciona, o jeito é sorrir...e os estoques de esperanças brotam de algum lugar aqui dentro. Não é obra minha não, deve ser coisa de Deus. E é.
Queria tanto um textinho novo.É porque eu sei que quando sua alma escreve , sorrisos aparecem ! Creia!
Sou canceriana, filha de Iansã e pra la de intuitiva. Moro na beira do mar... e me banho com as oferendas da mãe Iemanjá.
Jaya, ja passou.Tudo passa.
Vem ser feliz hoje, sexta feira da paixão, onde Ele morreu por nos!
Beijos garota,
♥ you
Feliz Pascoa