Pode haver o que está dependendo
de um pequeno momento puro de amor.
(Da maior importância - Caetano Veloso)
Que você tenha uma rede colorida ou um chão de natureza para descansar do que se é enquanto sonha lugares e pessoas solares. Que tenha ao alcance uma bebida que desça melodiosa para meditar a respeito de si mesmo enquanto toca alguma música que te faça criar planos tão importantes quanto ajudar um passarinho machucado a voar novamente. Que nas reuniões de família as crianças te convidem a sentar-se com elas porque você continua não sendo adulto mesmo depois dos trinta. Que você se interesse até pelo óbvio desinteressantíssimo de alguém, a ponto de apaixonar-se — e se a sorte for amiga, que você consiga colecionar motivos a cada novo dia em que estiver. Que exista uma cozinha onde as panelas sejam guiadas por mãos de amparo e todo o afeto seja intuitivamente o tempero do que alimenta. Que seu silêncio seja ouvido por quem sabe dar voz aos balões enquanto lê os quadrinhos. Que sua fala goste de deitar no colo de pelo menos uma pessoa que saiba nadar no oceano que é você.
Que pelo menos uma vez você seja recepcionado por um cachorro que dê voltas a seu redor, pule no seu colo e preencha de lambidas seu rosto, enquanto o rabo inaugura um carnaval eletrizante que só sua presença produz. Que você seja alegoria em tantos corações quantos forem possíveis, mesmo que já tenham sambado no seu algumas vezes, deixando apenas marcas e nenhum confete. Que sempre exista alguém para ajudá-lo a atravessar alguma rua difícil de um dia escuro. Que você possa estar numa casa onde moram vários antigamentes e te seja permitido dormir no sofá mesmo em meio ao barulho de muitas vozes reunidas, porque são sons que te acariciam sem censura alguma. Que quando alguém que você ama partir deste mundo/ de alguma história, você descubra dentro em si caminhos para (re)encontrá-lo/ deixá-lo ir. Que tudo em você um dia rime com alguém.
Que você tenha pelo menos um irmão, de sangue ou de costura da vida, que te ajude a resgatar memórias daquelas com cheiro e som de amor. Que quando as horas forem tristes você permita doer, latejar, rasgar e, acima de tudo, sentir — sem, todavia, esquecer a estrada por onde retornar. Que no final de um dia estranho você tenha uma cama com lençóis recém-trocados e um aroma de amaciante que te lembre o abraço da sua mãe. Que você não passe pela vida sem conhecer o amor, em todas as suas projeções e desconstruções. Que quando você cair em alguém, que seja do modo mais violentamente belo e gentil possível — mas que seja ainda melhor quando cair em si. Que por algum acaso te encontre distraído um olhar aceso capaz de balançar todos os seus alicerces, e te faça dançar. Que seus pulmões respirem árvores inteiras.
Que seu nome pinte lábios saborosos que combinem com seu gosto. Que você pronuncie, ao longo dos anos, palavras cada vez mais parecidas com o vento que sopra na beira-mar e te assanha os cabelos e o sorriso. Que as pequenas coisas te interessem muito. Que você não precise fugir para ser feliz. Que não se sinta sozinho ao redor de muitas pessoas. Que esteja na melhor companhia possível ao estar consigo mesmo. Que os poemas te enxerguem por dentro enquanto você se deixar revelar em versos. Que de vez em quando apareça alguém te oferecendo o seu chocolate preferido. Que você entenda que nunca é tarde demais para chegar e aprenda que, quando o lado de dentro apontar, qualquer hora é a melhor para ir embora. Que você seja a primeira escolha em todas as suas escolhas. Que as palavras sejam aconchego enquanto o abraço ainda está pela estrada.
É da maior importância que esse dengo te alcance, como um cafuné. Encosta aqui.
Que maravilha de leitura, a gente lê e e toda essa sensibilidade poética no texto, trás a gente pra reler. É como uma oração poética, que o meu espírito quer ler para todo mundo. Emociona.
ResponderExcluirMuitíssimo grato e um feliz domingo. Grande abraço!
Quanta sensibilidade e leveza! Muito bom retomar a leitura de textos que aguçam ainda mais a vontade de ser e fazer poesia... Parabéns!
ResponderExcluirAhhh Jaya,
ResponderExcluirum dia quando eu crescer eu quero ser igual você. Ter essa leveza, essa sensibilidade, essa caixinha de sonhos que deslizam pelas suas mãos.
Eu que agradeço todos os momentos que meus olhos se enchem de esperanças cada vez que eu venho aqui. Você não esta só.
Se você quiser caminhar e não tiver a coragem de ir só
Me chama que vou com você.
Eu vou ao seu lado nos caminhos
Ladeados de esperanças,
Cobertos por terras férteis,
Sob o céu azul com gaivotas voando
Eu vou!
E se te couber por destino
Os caminhos obscuros cercados de cactos
Secos e espinhosos,
Numa terra árida onde o nada
É tudo que se cultiva
E a vida não deixa pegadas
Como marca da sua existência,
Pode pegar minha mão
Que também estarei presente
Nesses caminhos.
Que o natal seja de saúde e paz.
E que o ano novo traga alivio e amor.
Beijos
É sempre um afago vir aqui, Jaya. E sempre saio mais inspirada. E sempre, sempre guardo comigo um trecho preferido, e desta vez foi este: "Que tudo em você um dia rime com alguém". Isso é tão bonito...!
ResponderExcluirQue tudo que seu texto desejou a nós, que te lemos, venha também, e dobrado, a você. Você é maravilhosa. Você merece. Que o mundo inteiro conspire, da forma mais poética possível, a seu favor!
Um abraço enorme,
Larissa
As moscas na janela
Que saudade que eu estava de ler você minha nega. Como é gostoso passear pelas suas palavras e poder ficar pertinho de você através daqui! Obrigada por nunca parar de semear a gente com esse espaço. Você não tem noção do tamanho da minha admiração por você.
ResponderExcluirSempre volto. E te desejo de volta.
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